domingo, 17 de fevereiro de 2008

São Sebastião, Guido Reni, séc. XVII


A falta do divino tem acabado com o meu espírito, e agora é tarde... A falta do extraordinário, daquilo que os filmes mostram imitando aquela vida que vale a pena imitar.
Têm acabado comigo o céu sempre a matar, as estrelas que não vejo e o vão descalabro disto aqui. A noite que não passa, a noite que não vem, a constante fotossíntese humana, o determinismo genético, psicológico e ilusório.
Acabam comigo a falta da visão idílica, a lógica da negação, a ausência de boa música nas caixas de som daquele boteco de sempre.
Têm acabado comigo muito do que não posso ver nem tocar,e no entanto sentir, mas também acaba comigo muito do que não posso sentir, mas apenas ver em pensamentos ansiosos e esmoleres.
A chuva que não vem, o sol que não brilha, circunstâncias patifes, biltres nas esquinas da minha vida e a falta de esquinas nessa jornada.
Acabam comigo a demagogia dos bons/falsos modos, a falta de conversar com as pessoas certas e o excesso de solidão nas horas erradas e ainda acabam comigo as divagações presunçosas e tentadoras.
Têm acabado comigo... tenho acabado comigo, tens acabado
comigo...
(27.12.2007)

[Por mim mesma, K.]

Tempo... espaço... corpo...

E fico velha e velha,e certa da fraude poética me explico, não só o castelo do tempo é contruído, aquele castelo de momentos vividos processados pela abstração, mas também aquele que se onstenta em mim cada vez mais, que é perecível, pois pereço. A arte pérfida desenha com mãos suaves a corrosão crescentemente acentuada. Eis que sobre a ânsia do vôo livre no planalto se ergue o outeiro tão belo, tão sólido e frágil que é a minha vida.


[Por mim mesma, K.]