terça-feira, 28 de julho de 2009

Lugar comum...

Era um domingo daqueles em que você acorda subitamente iluminado sobre o “profundo e verdadeiro significado da vida”. Só quer saber das coisas superiores. Se irrita com as ninharias do cotidiano turbulento. Pensa até em deletar o seu Orkut, esquecer o e-mail, afastar a si próprio de todo e qualquer aparelho eletrônico, artificial, símbolo de toda decadência espiritual do ser humano. Degradante. Tá! O mp3 não. Mas nada de Seether, Puddle of mudd ou Black Sabbath louvando ao capeta! Coisas alegres e plásticas demais também não servem para esse dia. Você quer é escutar Maria Creuza, mergulhado para sempre num estado de contemplação, descobrindo todos os sentidos de todas as letras fantásticas e perfeitas do poetinha vagabundo. Você quer saber das palavras grandes, tudo, todas, todos, mundo, universo, sentido. Num frenesi literário quer ler todos os livros, todos os autores, conhecer todos os títulos e falar com propriedade de todos os assuntos. Nesse momento, sua mente arde em chamas, você olha a tudo e a todos com olhos de profeta, cumprindo um roteiro messiânico, você é o escolhido. Fica aliviado, extasiado, excitado, tranquilamente ansioso. Passeia pelas ruas com ares de sabedoria, com vistas poéticas. Percebe tudo de outra maneira, uma maneira perturbadoramente deliciosa. A noite cai, como você ainda não virou imortal, nem rico, vai pra casa. Se aquieta sob suas cobertas, vai lendo o segundo título da maratona literária do dia, pode ser qualquer um, todos querem dizer alguma coisa entre o mágico e transcendente. Vai adormecendo, com aquela leve sensação de mudança de rumo. Feliz, quase pleno... vai adormecendo... DESPERTADOR... som agudo, frenético, frêmitos debaixo do travesseiro... Acorda. Meio tonto se dá conta do que está acontecendo. Merda! Segunda. Mau humor matinal, natural. Atraso. Remelas, pasta de dente, escova de dente, escova de cabelo, roupa, sapato, pressa. Café mau passado, mal tomado. Ônibus, sacolejos, sorrisos afetados, cumprimentos tacitamente impostos. E naquele circunlóquio forçado do trabalho nas manhãs de segunda alguém lhe pergunta “e você, o que fez ontem?”, você silencia por alguns instantes... “nada demais, nada demais não”.
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[Por mim mesma, K.]

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei de paixão esse texto...que loucura essa vida ... Quem que saber de nossas idéias? Talvez algum encosto, alma penada, mas que se dane, se for isso, é pra eles que escrevo mesmo! Para que vaguem pelo umbral de cada dia como nós, estranhos no ninho.
Parabens guria!
E valeu a passada no blog..
bj

Anônimo disse...

É oq nós resta???
Belo texto!!!

;)