segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um conto com ratos...

Eu andava por um corredor estreito, entre paredes altas de concreto. Não enxergava meus pés, não enxergava o chão, só via e sentia uma neblina densa e rasteira. 
Escuridão. 
Sentia volumes sob meus pés, mas não podia ver... não podia ver...
Cheguei, enfim, a uma abertura no meu lado esquerdo. Lá estava claro, claro de uma luz desmaiada e fraca. Era um jardim. Um jardim de flores mortas, secas e escuras. No chão, ratos, muitos ratos. Ratos sujos do que parecia ser sangue. Ratos vivos, mas podres. 
Eu gritei. 
Não um grito de pânico ou de medo, mas um grito vibrante que espantou alguns daqueles seres asquerosos, como se os varresse. Alguns ficaram no caminho, e eu simplesmente catei algo do chão para atirar neles. Apertei sob meus dedos e lancei, lancei com toda força e raiva de que era capaz. 
Foi então que olhei para minha mão e ela estava suja. Ensangüentada e pútrida. 
Aterrorizada percebi: aquilo que havia jogado era outro rato, morto e podre. 
Vi a peste se espalhando sobre meu corpo, me consumindo, me apodrecendo, e de repente o chão ficou fofo e lamacento sob meus pés e me engoliu.
Uma queda vertiginosa me fez querer gritar, mas a lama sufocava minha garganta, me sufocava. Numa escuridão total e apavorante eu senti minha vida escapando entre os dedos. 
E do que parecia ser meu último respiro desesperado veio a luz da manhã invadindo minha retina, me acordando num susto...
Respirei fundo olhando para o teto...
um sonho...
um péssimo sonho...




[Agosto de 2010. Por mim mesma, K.]


.
.
.

Nenhum comentário: