sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A sincronia dos pássaros me apavora...

       É só olhar para aquele passarinho engaiolado ali do lado para se ter uma boa noção do sadismo humano. Há algo de tremendamente errado nesse hábito de enjaular pássaros. Aliás, de enjaular qualquer coisa. Mas esse, especificamente, de enjaular/engaiolar/aprisionar pássaros é uma das mais cruéis expressões do egoísmo do homem. Algo do tipo: “eu não posso voar, então vou te prender passarinho, aqui nessa jaulinha bem minúscula, e eu sei que tu poderias estar galgando imensas distâncias pelos céus resplandecentes e azuis, mas não vais, entendeu? não vais, porque te acho bonitinho aqui, nessa jaulinha, bem pequenininha!”.
         O pior ainda é ouvir aqueles discursos: “tem passarinhos que existem para viver em gaiolas (do tipo uma linha de produção só para o bel prazer do querido e amável ser humano), que são ‘domésticos’”, ou ainda, “ahh, mas se soltar agora ele morre”.
          - Atenção pessoas!
           Um ato de vaidade, de egoísmo, de arrogância diante da natureza. Um ato asqueroso. Eu mesma, devo confessar, já pensei em ter um passarinho, e pra quê? Pra sei lá, inventar mais um algo pra fazer (como se já não tivesse sido inventado o suficiente), para despistar algum instinto maternal, para me sentir importante e útil, para ter o controle de uma forma de vida, sei lá.
           Se fala em grandes atos heróicos de salvação, se fala de um monte de merda humanitária, e blás e blás infinitos. Mas quer saber, é nessas pequenas coisas que o ser humano mostra sua face verdadeira. E o mais apavorante é saber que absurdos cotidianos como esse são encarados como normalidade pura. Isso é o mais assustador!

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[Por mim mesma, K.]

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