quarta-feira, 22 de junho de 2011

.pretensa consciência social.

A mim parece que todos esse protestos verbais da população em geral, do tipo comentários no twitter, mobilizações virtuais, frases de indignado desabafo no almoço de domingo, que todas estas manifestações, por natureza fugazes e efêmeras - pois moram no interesse individual e não no coletivo - são pequenos escapes, pelos quais de maneira vagarosa e insignificante escoa uma energia que em forma de avalanche repentina poderia verdadeiramente provocar mudanças profundas.
Esses protestos são previstos pelo sistema, e até incentivados. A falta de liberdade de expressão tem relação direta com os movimentos genuinamente revoltados e ansiosos por transformações...
Hoje cada um se contenta em poder criticar, em poder dar a sua magnânima opinião sobre tudo, exercendo assim uma liberdade conquistada com muito suor por gerações que já se esvanecem.
Não há mais explosões ideológicas, há pequenos inchaços aqui e acolá que logo são suprimidos, escondidos, esquecidos, pela forma mais estúpida e vergonhosa, - muito mais do que a opressão autoritária dos militares de outrora - a distração, o desvio de atenção.
E assim vamos seguindo, reclamando do aumento salarial dos políticos, da ciclovia que não foi feita, do escândalo do Detran, lamentando o terremoto ali, o bombardeio acolá. Muito mais preocupados em emitir opinião, em mostrar uma preocupação, que de fato não existe, não é sincera. Em última análise, uma preocupação com a própria alma.

E reconheço que talvez em nada se diferencie essa minha declaração daquelas que são o objeto dela...

[Por mim mesma, K.]

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Meu vício agora...

Baita música de uma grande banda nacional...

Meu Vício Agora
Kid Abelha
Composição : George Israel/Paula Toller

Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão

Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre e um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão

Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar...é voar

Não vou mais verter
Lágrimas baratas sem nenhum porque
Não vou mais vender
Melôs manjadas de Karaokê

E mesmo assim fica interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...
Desedificante

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Estudo de Planejamento Político 23

Lendo um material para a faculdade, deparei-me com tal absurdo que sucede. É um trecho do Estudo de Planejamento Político 23 [EPP 23], elaborado em 1948, pelo Departamento de Estado dos EUA, redigido pelo então encarregado George Kennan. Na verdade é absurdo, mas nem tanto. Nem tanto, porque a gente já sabe bem como funcionam as coisas por trás dos panos, e ficar chocado não é exatamente a reação.
Esse documento foi concebido como ultra secreto, mais como um diálogo entre os estrategistas americanos do pós-guerra, que objetivavam claramente a hegemonia e monopólio da economia mundial. Essa história dos EUA dominar o mundo parece meio clichê já, mas é interessante perceber como eles realmente estavam articulados no sentido de elaboração de metas e estratégias de dominação, no sentido de ações concretas, para que a gente saia um pouco daquele plano de idéias vagas de conspiração.

Segue um trecho:

Precisamos parar de falar de vagos e irreais objetivos, tais como direitos humanos, elevação do padrão de vida e democratização. Não está longe o dia em que teremos de lidar com conceitos de poder direto. Então, quanto menos impedidos formos por slogans idealistas, melhor. 

"Seguindo essas mesmas linhas, numa reunião de embaixadores americanos na América Latina, em 1950, Kennan observou que a maior preocupação da política externa norte-americana devia ser 'a proteção das nossas (isto é, da América Latina) matérias-primas. Devemos combater a perigosa heresia que, segundo informava a Inteligência americana, estava se espalhando pela América Latina: “A idéia de que o governo tem responsabilidade direta pelo bem do povo'. Os estrategistas americanos chamam esta idéia de comunismo. [...] se elas apóiam tal heresia, elas são comunistas."




Referência:

CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Reflexões pertinentes...

As crises não constituem anomalias do capitalismo, mas são uma das suas características mais fundamentais.

IHU On-Line - Se Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, 150 anos antes, que espécie de previsões podemos fazer para nossa economia a partir da sociedade que temos hoje, baseada em valores consumistas e na autonomia?

Claus Magno Germer - Marx foi um cientista, não um profeta. Elaborou uma representação teórica do capitalismo. Se a teoria de um fenômeno o representa adequadamente, ela permite antecipar a ocorrência das principais características do desenvolvimento do fenômeno. A teoria de Marx sobre o capitalismo é uma teoria deste tipo, motivo pelo qual lhe permitiu não só explicar a natureza do capitalismo e do seu funcionamento, como ainda antecipar características que só se tornaram visíveis mais tarde. Além do seu pioneirismo na admissão e explicação teórica das crises, Marx explicou e antecipou o processo geral de centralização do capital que está na base da fase monopolista do capitalismo, inaugurada no final do século XIX; explicou a tendência, amplamente comprovada, de queda cíclica da taxa média de lucro; antecipou e fundamentou teoricamente a existência permanente do desemprego no capitalismo; antecipou o processo de proletarização crescente da população, que pode ser ilustrado pelo crescimento contínuo da proporção do proletariado industrial na população, que passou de apenas cerca de 5% da população mundial no início do século XX para mais de 30% no início do século XXI; antecipou o processo de aumento da polarização entre uma minoria de ricos e uma maioria de pobres, que é ilustrada cotidianamente nos meios de comunicação pelas estatísticas da pobreza e da miséria em escala continental, abarcando pelo menos dois terços da população mundial atual. Estes dados ilustram a antecipação mais importante que decorre da teoria de Marx: de que a intensificação progressiva, embora cíclica, da contradição entre a socialização crescente do trabalho e da produção, isto é, da riqueza, e a privatização crescente desta riqueza e sua concentração nas mãos de uma minoria cada vez mais diminuta, representa o crescimento das potências transformadoras inerentes ao capitalismo e conducentes ao seu fim. Esta contradição se resolverá, por imposição das circunstâncias, através da abolição da propriedade privada dos meios de produção e a instituição da propriedade social, e da conseqüente abolição do motivo egoísta do lucro como base da regulação do trabalho e da produção social e sua substituição pelo critério do atendimento das necessidades da coletividade, em uma palavra, através do socialismo.
Portanto, embora não se possa fazer previsões precisas, dada a complexidade do processo histórico, o que se pode dizer com base na teoria de Marx é que o capitalismo continuará apresentando uma seqüência de expansões e crises, ao longo das quais as contradições enumeradas acima se acentuarão, também de modo cíclico, ampliando a instabilidade global do sistema.

IHU On-Line - Qual a importância do Estado e da regulação dos mercados para recuperação da ordem financeira internacional?
Claus Magno Germer - O marxismo não é ingênuo em relação à natureza e funções do Estado. O Estado e o mercado são, juntamente com a economia, componentes do sistema integrado que é a sociedade capitalista. O Estado é um órgão do capital, isto é, de representação dos interesses da classe capitalista. Conseqüentemente, os instrumentos de regulação que utiliza destinam-se a preservar os interesses e o domínio desta classe e do processo de acumulação de capital. Nas crises, a ação do Estado consiste em socializar os custos, isto é, “sanear” a contabilidade de bancos e empresas mais atingidos, lançando o passivo sobre a sociedade, especialmente sobre os trabalhadores e pobres em geral. É o que está ocorrendo atualmente: os dois ou três trilhões de dólares das operações de salvamento articuladas até este momento pelos governos dos países capitalistas centrais destinam-se a salvar instituições financeiras, mas nada ou muito pouco se diz sobre o destino dos devedores não-capitalistas e dos trabalhadores lançados no desemprego, ou sobre a origem destes recursos.



Referência: Entrevista do economista Claus Germer à Revista on line do IHU, em 2008.
Leia a entrevista na íntegra em Revista IHU on line